07 novembro, 2010
Simpósio do Nurba: inscrição de artigo e resumo até dia 20
Elizeu lançará livro no III Simpósio do Nurba
09 outubro, 2010
Gênero e Transformações Sociais: As contribuições de Mulheres para a Saúde Comunitária no Setor Vila Nova, em Porto Nacional – TO
Roberto de Souza Santos**
As feministas assinalaram muito cedo que o estudo das mulheres acrescentaria não só novos temas, como também iriam “impor” uma reavaliação crítica das premissas e critérios dos trabalhos científicos já existentes. Diante disto, este trabalho tem o intuito de analisar as transformações sociais e políticas no Setor Vila Nova, da Cidade de Porto Nacional - TO, a partir das contribuições de mulheres nas diversas funções sociais que exercem, focando a presença, participação e influencia da mulher no meio político e social. Especificamente neste trabalho, será analisada a importância da participação feminina na saúde, focando principalmente as ações que tiveram sucesso no combate ou controle de epidemias, como a dengue e doenças infantis (desidratação, cuidados da amamentação etc.), doenças sexualmente transmissíveis e demais outras informações gerais sobre saúde comunitária. Os procedimentos metodológicos têm como ponto de partida uma revisão bibliográfica sobre os principais focos deste trabalho, isto é, serão feitas estudos nas áreas da Geografia Urbana, Geografia da Saúde, Geografia e Gênero e especificamente sobre Gênero e Saúde Comunitária. Em um segundo momento, serão realizados estudos e análises com relação aos projetos sociais da COMSAÚDE, levando em consideração os benefícios no âmbito da Saúde Comunitária para o município e o Setor Vila Nova. Analisando ainda, as contribuições dessas mulheres no âmbito de Serviço Público de Saúde, focando a Unidade de Saúde – (P.S.F) Vila Nova II, Posto de Atendimento escolhido para a execução deste trabalho. As bases que justificam essa pesquisa centram-se nas análises de projetos.
**Prof. Dr. do Curso de Geografia do Campus de Porto Nacional/UFT – robertosantos@uft.edu.br
Formação e preparação de agentes ambientais da Comunidade Minerasul - Pará
(Resumo apresentado no II Simpósio do Nurba_outubro de 2009)
*Consultor Técnico da Empresa Technoacqua Consultoria Ambiental. E-mail: francobio@hotmail.com
Uso de sensoriamento remoto na determinação do índice de cobertura vegetal da cidade de Porto Nacional - TO
Na atualidade, o sensoriamento remoto tem sido uma das ferramentas importantes para se detectar, mapear e monitorar os objetos na superfície terrestre. As imagens de satélites têm proporcionado uma visão de conjunto multitemporal da superfície da Terra, e tem apresentado, conforme Florenzano (2002), através da visão sinóptica do meio ambiente ou da paisagem, a possibilidade de estudos regionais e integrados, e revelado a dinâmica destes ambientes expressos nas transformações naturais e antrópicas. Sensoriamento Remoto na definição de Novo (1989) e Rosa (2007) é uma técnica que utiliza sensores, equipamentos para processamento e transmissão de dados, na captação e no registro da energia refletida ou emitida por elementos na superfície terrestre ou por outros astros, com o objetivo de estudar o ambiente terrestre através do registro das interações entre a radiação eletromagnética e as componentes do planeta Terra e suas diversas manifestações. Aqui nesta pesquisa aplicam-se as técnicas de interpretação de imagens em produtos do sensoriamento remoto orbital para a determinação do índice de cobertura vegetal. Loboda & De Angelis (2005) explicam que para a obtenção deste índice é necessário o mapeamento de toda cobertura vegetal de um bairro ou cidade e posteriormente quantificado em m2 ou Km2. Assim, conhecendo-se a área total da cidade de Porto Nacional e com base na análise das imagens de satélite a área ocupada por vegetação (m2 ou Km2), confeccionamos um mapa e determinamos a porcentagem de cobertura vegetal que existe na cidade.
Palavras-chave: Sensoriamento Remoto. Índice de cobertura vegetal. Mapeamento. Porto Nacional-TO.
*Acadêmicos do Curso de Geografia – Bacharelado / Universidade Federal do Tocantins – Porto Nacional-TO / pamela_geografia@yahoo.com.br;
**Prof. Assistente do Curso de Geografia - Universidade Federal do Tocantins – Porto Nacional-TO / figueiredo_geo@uft.edu.br
Os efeitos da ampliação do acesso a educação escolar na transmissão da cultura Akwe - Xerente e seus reflexos nos rapazes que cursam ensino superior
Objetivos: Estudar os conhecimentos que eram transmitidos no Warã e no Warĩnsdaré e observar como o acesso ao ensino superior está influenciando nas relações destes estudantes com a cultura tradicional Xerente.
Metodologia: Num primeiro momento, consulta bibliográfica referente ao assunto. Ao mesmo tempo, será realizado levantamento de dados no campo, através das visitas realizadas nas aldeias do PI Xerente, principalmente nas aldeias Salto, Porteira e Krité, distantes entre si de menos de cinco quilômetros. Meus pais moram na aldeia Salto e nas minhas visitas quinzenais à minha família e tenho feito destas, momentos de pesquisa com os anciões sobre nossa cultura tradicional e também com os estudantes universitários destas aldeias. Também farei visitas aos colegas universitários que moram e estudam em Palmas para entrevistá-los sobre os aspectos principais da nossa cultura e como estamos nos relacionando com ela. Estou gravando em áudio as entrevistas que estou realizando com os anciões sobre como era transmitida a cultura no Warã e no Warĩnsdaré. As observações estão sendo registradas em cadernos de anotações e diários de campo. Também faço registro fotográfico dessas atividades.
Resultados: Até o momento estou consultando bibliografia sobre o processo de escolarização entre os Xerente (Grillo, 199...) e sobre aspectos da cultura tradicional estudados por antropólogos (Giraldin, Nolasco, Reis, Farias & Silva). Também tenho feito entrevistas com os anciãos (Sr. Valdeciano; Sr. Severo; Sra. Eurides Waiti; Pedro..) e acompanhado rituais (kupré).
Palavras-chave: Xerente. Ensino Superior. Cultura.
(Resumo apresentado no II Simpósio do Nurba_outubro de 2009)
**Doutor em Ciências Sociais – Curso de História, campus de Porto Nacional. Coordenador do
08 outubro, 2010
O medo e o terror não vencerão a esperança
Estudo da diversidade dos solos em área da Franciscisquinha - Chácara Tia Niva do município de Porto Nacional - TO
Este trabalho tem como objetivo estabelecer as principais características morfológicas, físicas e químicas dos perfis dos solos, caracterizando o tipo de solo da área da Francisquinha. Na área foram marcados três pontos, para abertura das trincheiras. O local da abertura das trincheiras foi determinado de acordo com as características do relevo, vegetação e uso do solo, para realizar a coleta das amostras de solos. Foram coletadas nove amostras simples (submostras) para formar uma amostra composta em cada horizontes do perfil do solo.O tipo de solo foi definido de acordo com as características de acordo a classificação brasileira da Embrapa. As análises químicas e físicas das amostras do solo foram realizadas no Laboratório de Solos PortoFertil em Porto Nacional-TO. Os dados obtidos para cada variável foram armazenados em planilhas com o posicionamento geográfico, profundidade, vegetação natural, uso atual, relevo, material de origem e os atributos morfológicos e físico-químicos do solo. Os dados qualitativos foram utilizados na análise estatística descritiva. No solo da área da Francisquinha, foi verificado o Latossolo Vermelho Amarelo e Cambissolo, que são solos distróficos, característica típica dos solos do cerrado. Nesta área o uso do solo em períodos anteriores e atuais, utilizado pelos pecuaristas e agricultores não correspondem às técnicas de manejos recomendadas para sua utilização e deixando este mais susceptível a erosão. Com base na avaliação da caracterização química e física dos solos, sob diferente vegetação, pode-se constatar que os solos apresentaram níveis não satisfatórios de potássio, cálcio mais magnésio, sendo necessário antes de qualquer atividade agrícola que seja realizado a correção, quanto à redução da acidez como fornecimento de fósforo, potássio e, durante o processo produtivo, seja feito manejo adequado.
Palavras-chave: Solo. Características Química, Morfológicas e Perfil.
**Orientadora Hayda Maria Guimarães e Professora do curso de Geografia-Campus de Porto Nacional-TO hayda.uft@hotmail.com.br
A semana científica de biologia como evento de extensão universitária
Franco Porto dos Santos e Ariadne Carvalho Godinho*
A Semana Científica de Biologia da Universidade Federal do Tocantins é um evento regional de extensão universitária que tem por finalidade integrar a instituição com a sociedade, tornando suas atividades mais próximas da comunidade. Realizada pelo curso de Ciências Biológicas, é destinada a acadêmicos, professores, pesquisadores, representantes de órgãos governamentais e não-governamentais, assim como membros da comunidade regional. Tem o objetivo principal de discutir temas relevantes e polêmicos de grande amplitude para a sociedade como um todo, além de buscar o aprimoramento das atividades de pesquisa, de extensão e de ensino, trazendo a oportunidade de tornar pública as discussões e a promoção de alternativas para a melhor utilização do bioma Cerrado. O encontro é realizado anualmente desde o ano de 2004, quando se organizou a IV Semana de Biologia. Entretanto, a primeira edição ocorreu no ano de 1992 e a segunda no ano seguinte, quando se buscou uma continuidade da mesma. A partir de então, o evento não mais ocorreu e foi retomado apenas em 2002 com a III Semana Científica de Biologia, isto porque a recém instituída Fundação Universidade Federal do Tocantins, bem como o curso de Ciências Biológicas, durante grande parte deste período, foram marcados por inúmeras etapas de transição, entre estatização e privatização de suas atividades acadêmicas até sua definitiva federalização alcançada em 23 de outubro de 2000. O suporte financeiro para o evento é obtido com a arrecadação de inscrições, apoio logístico dado pela própria Universidade e por meio de parcerias com outras instituições e órgãos públicos. Comumente, os eventos são divididos em palestras, mini-cursos e confraternizações diárias, proporcionando a todos os participantes o conhecimento, a reflexão, o lazer e a integração social.
(Resumo apresentado no II Simpósio do Nurba_outubro de 2009)
*Egressos do Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Tocantins. E-mail: francobio@hotmail.com
Nossos solos nossas vida: conhecendo e classificando o solo, a partir do seu perfil
Hayda Maria Alves Guimarães**
Palavras-chave: Conhecimento. Características do solo. Classificação do solo.
**Orientadora - Curso de Geografia – Porto Nacional- TO; hayda@uft.edu.br .
Associações de Artesanato do Capim Dourado na Região do Jalapão: Um estudo de caso do município de Ponte Alta do Tocantins
Roberto de Souza Santos**
A partir da criação do Estado do Tocantins, a região do Jalapão vêm se consolidando num novo espaço, objeto das políticas públicas desenvolvimentistas. Algumas destas políticas estão direcionadas às atividades de fomento às comunidades tradicionais. Dentro do contexto do Jalapão destaca-se o artesanato do capim dourado, sendo considerada uma importante atividade econômica regional, e ganhando reconhecimento nacional e internacional.
Como a prática artesanal tem revolucionado a economia local, tornou-se necessário que as comunidades envolvidas nessa atividade se organizassem para discutir questões pertinentes à exploração e comercialização do capim dourado. Com o auxílio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e com a participação de alguns moradores da região, surgiram as primeiras associações de produtores, tendo os turistas como principal mercado consumidor. As associações promovem oficinas artesanais, regulamentam os preços dos produtos, visando garantir uma maior rentabilidade para os atores envolvidos nessa atividade sendo elas Associação Capim Dourado do Povoado do Mumbuca; Associação Comunitária dos Artesãos e Pequenos Produtores de Mateiros;Associação dos Artesãos do Capim Dourado Pontealtense; Associação Comunitária dos Extrativistas, Artesãos e Pequenos Produtores do Povoado do Prata de São Félix do Tocantins. O presente trabalho teve como objetivo identificar e analisar o funcionamento das associações de artesanato de capim dourado na região do Jalapão, com ênfase a associação dos artesãos de capim dourado pontealtense, no município de Ponte Alta do Tocantins.
Palavras-chave: Associações. Artesanato. Capim Dourado. Região do Jalapão.
17 agosto, 2010
Lançamento do Plebiscito pelo Limite da Propriedade será dia 19
Por José Filho | |
O lançamento do Plebiscito Popular pelo Limite da propriedade da terra foi adiado para a próxima quinta-feira (19). O evento acontece a partir das 19h30, no Anfiteatro da Universidade Federal do Tocantins – Campus de Palmas. O encontro é uma realização da coordenação do Projeto Gestão Pública e Sociedade e do Núcleo de Estudos Estratégicos em Gestão Contemporânea (NEEG). Publicado por: www.uft.edu.br |
Ceceña fala da militarização da América Latina
Congresso absolve MST
O MST jamais desviou dinheiro público para realizar ocupações de terra — eis a conclusão da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito(CPMI), integrada por deputados federais e senadores, instaurada para apurar se havia fundamento nas acusações, orquestradas pelos senhores do latifúndio, de que os movimentos comprometidos com a reforma agrária se apoderaram de recursos oficiais.
Resenha: “Combatendo a desigualdade social - O MST e a Reforma Agrária no Brasil”
Por Isabel Loureiro
Segundo este livro recentemente editado pela Editora UNESP [*], “graças aos assentamentos, entre 1985-2006, mais de 5 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza conseguiram moradia, renda e alimentação; o êxodo rural diminuiu; aumentou o poder aquisitivo dos assentados; a mobilização pela terra criou novas demandas; as novas lideranças introduziram mudanças políticas nos municípios”.
06 agosto, 2010
El origen del mundo
Uno de los vencidos, un obrero anarquista, recién salido de la cárcel, buscaba trabajo. En vano revolvía cielo y tierra. No había trabajo para un rojo. Todos le ponían mala cara, se encogían de
Mucho tiempo después, Josep Verdura, el hijo de aquel obrero maldito, me lo contó. Me lo contó en Barcelona, cuando yo llegué al exilio. Me lo contó: él era un niño desesperado que quería salvar a su padre de la condenación eterna y el muy ateo, el muy tozudo, no entendía razones.
14 junho, 2010
Vivências de realidades mudam opiniões e estabelecem diálogos
Aline Sêne
Estudantes de Direito da Universidade Federal do Tocantins (UFT) visitaram o assentamento Pe. Josimo, localizado próximo ao município de Nova Rosalândia, Estado do Tocantins, e conhecerem a história da conquista da terra, a organização das famílias e a luta do MST. Entre as muitas perguntas feitas pelos estudantes aos assentados, existia uma grande preocupação: mesmo com tantas dificuldades, os assentados eram felizes onde estavam? Nicolina, morada do assentamento, logo tirou essa dúvida, “eu amo meu lugar”.
Após algumas horas de debates e troca de experiências, um dos temas ressaltados foi o tratamento que os grandes veículos dão as notícias relacionadas ao MST. Alguns acadêmicos ressaltaram a forma injusta que a história de famílias e a luta pela terra são noticiadas para a sociedade. Uma das assentadas explicou que falta consciência por parte da sociedade sobre o conceito da propriedade privada, e que o MST busca discutir este tema, mas a mídia impede o diálogo.
Os estudantes ficaram impressionados com a clareza política dos assentados e como resistiram dois anos na beira da BR-153 para conquistar um pedaço de chão. Mas também, aprenderam que para essas famílias a luta não terminou e que continuam a debater o modelo agrícola do Brasil e defendem que outras pessoas devem ter acesso a terra. Estes acadêmicos tiveram a oportunidade de entender que a Reforma Agrária vai além da distribuição de terra, é uma mudança da estrutura social.
Os futuros bacharéis deixaram o assentamento com outra visão do MST. Conheceram suas ações, a forma de se organizarem e, principalmente, a legitimidade da luta deste movimento. Porém, o fundamental foi os estudantes deixarem o assentamento com a convicção de que a luta pela terra é justa. Uma minoria dos visitantes passará a militar no MST, talvez nenhum faça isso, mas a maioria terá mais sensibilidade em lidar com os assentados, posseiros, acampados, os camponeses, como também, terão outra visão dos movimentos sociais.
Trabalho Morto
Livro "Versos e reversos da educação" será lançado dia 25
No dia 25 será lançado o livro "Versos e reversos da educação: da políticas às pedagogias alternativas", organizado por Claudemiro Godoy do Nascimento, às 19 horas, no anfiteatro, na Universidade Federal do Tocantins (UFT), em Palmas.
"É com muita alegria que estamos lançando este novo livro na tentativa de refletir sobre a educação brasileira e regional numa perspectiva crítica e dialética, levando em consideração, as discussões políticas no âmbito da totalidade e as discussões das pedagogias alternativas no âmbito da localidade", disse o autor.
Claudemiro explicou que o livro aborda sobre as experiências com os quilombolas, o MST, as escolas multisseriadas, a questão do tempo e do espaço político, da democracia, dos movimentos sociais e populares e da educação ambiental.
Os temas desenvolvidos neste livro são:
Dr. Claudemiro Godoy do Nascimento (UFT) – Organizador
Drª. Maria José de Pinho (UFT) - Apresentação
1 – Notas sobre as noções de tempo e as implicações na educação escolar
Drª. Maria Abadia da Silva (UnB)
2 – Educação democrática sem política? Notas de Pesquisa
Drª. Artemis Torres (UFMT)
3 – Os desafios da dimensão educativa da crise ambiental
Drª. Elisabeth Christmann Ramos (UFPR)
4 – Educação escolar indígena no Brasil: os caminhos de uma “guinada política e epistemológica”
Dr. Antônio Hilário Aguilera Urquiza (UFMS)
5 – Por uma visão histórico-dialética da cultura brasileira: algumas reflexões sobre raça, movimento negro e políticas educacionais
Drª. Renísia Cristina Garcia Felici (UnB)
6 – Ovo briga com pedra: a luta como pedagogia dos quilombolas de Alcântara
Dr. Benedito Souza Filho (UFMA)
7 – Cultura e memória de populações quilombolas: breve estudo sobre as comunidades remanescentes de quilombo Lagoa da Pedra e Kalunga Mimoso em Arraias (TO)
Drª. Sandra Maria Faleiros Lima (UFT)
8 – A produção do conhecimento em educação do campo: dos movimentos sociais à Universidade
Drª. Maria Antonia de Souza (UTP/UEPG)
9 – MST, Estado, Políticas Sociais e Esfera Pública
Dr. Claudemiro Godoy do Nascimento (UFT)
10 – Educação do Campo: desafios para a implantação de uma política efetiva
Msc. Suze da Silva Sales (UFPI)
Os interessados em adquirir o livro, o valor é de R$ 14, 253 páginas, e poderão entrar em contato pelo meu email:
As referências do livro são:
NASCIMENTO, C. G. (Org.). Versos e Reversos da Educação: das políticas às pedagogias alternativas. Goiânia: PUC Goiás, 2010.
ISBN: 9788571036239
09 junho, 2010
O mundo
— O mundo é isso — revelou —. Um montão de gente, um mar de fogueirinhas.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as outras. Não existem duas fogueiras iguais. Existem fogueiras grandes e fogueiras pequenas e fogueiras de todas as cores. Existe gente de fogo sereno, que nem percebe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de chispas. Alguns fogos, fogos bobos, não alumiam nem queimam; mas outros incendeiam a vida com tamanha vontade que é impossível olhar para eles sem pestanejar, e quem chegar perto pega fogo.
De Eduardo Galeano - O Livro dos Abraços
27 maio, 2010
Crise ecológica, capitalismo, altermundialismo: um ponto de vista ecossocialista
Os ecologistas se enganam se crêem poder abrir mão da crítica de Marx ao capitalismo: uma ecologia que não leve em conta a relação entre "produtivismo" e lógica do lucro está destinada ao fracasso - ou pior, à sua recuperação pelo sistema. Os exemplos não faltam... A ausência de uma postura anticapitalista coerente levou a maior parte dos partidos verde europeus - França, Alemanha, Itália, Bélgica - a tornar-se simples parceiro "ecorreformista" da gestão social-liberal do capitalismo pelos governos de centro-esquerda. A opinião é de Michael Löwy em artigo para o n° 14 da revista Margem Esquerda reproduzido por CartaMaior, 24-05-2010.
Grandezas e limites da ecologia
A grande contribuição da ecologia foi e continua sendo nos fazer tomar consciência dos perigos que ameaçam o planeta como consequência do atual modelo de produção e consumo. O crescimento exponencial das agressões ao meio ambiente e a ameaça crescente de uma ruptura do equilíbrio ecológico configuram um quadro catastrófico que coloca em questão a própria sobrevivência da vida humana. Estamos diante de uma crise de civilização que exige mudanças radicais.
Os ecologistas se enganam se crêem poder abrir mão da crítica marxiana do capitalismo: uma ecologia que não leve em conta a relação entre "produtivismo" e lógica do lucro está destinada ao fracasso - ou pior, à sua recuperação pelo sistema. Os exemplos não faltam... A ausência de uma postura anticapitalista coerente levou a maior parte dos partidos verde europeus - França, Alemanha, Itália, Bélgica - a tornar-se simples parceiro "ecoreformista" da gestão social-liberal do capitalismo pelos governos de centro-esquerda.
Considerando os trabalhadores irremediavelmente destinados ao produtivismo, alguns ecologistas ignoram/descartam o movimento operário e inscrevem em suas bandeiras: "nem esquerda, nem direita".
Ex-marxistas convertidos à ecologia declaram apressadamente "adeus à classe operária" (André Gorz), enquanto outros autores (Alain Lipietz) insistem na necessidade de abandonar o "vermelho" - isto é, o marxismo ou o socialismo - para aderir ao "verde", novo paradigma que trará uma resposta a todos os problemas econômicos e sociais.
O ecossocialismo
O que é então o ecossocialismo? Trata-se de uma corrente de pensamento e ação ecológicos que toma como suas as aquisições fundamentais do marxismo - ao mesmo tempo que se livra de seus entulhos produtivistas.
Para os ecossocialistas a lógica do mercado e do lucro - bem como aquela do defunto do autoritarismo burocrático, o "socialismo real" - são incompatíveis com as exigências de preservação do meio ambiente. Ao mesmo tempo que criticam a ideologia das correntes dominantes do movimento operário, eles sabem que os trabalhadores e suas organizações são uma força essencial para uma transformação radical do sistema e para a construção de uma nova sociedade socialista e ecológica.
Essa corrente está longe de ser politicamente homogênea, mas a maior parte de seus representantes compartilha alguns temas. Rompendo com a ideologia produtivista do progresso - em sua forma capitalista e/ou burocrática - e oposta à expansão ao infinito de um modo de produção e consumo destruidor da natureza, o ecossocialismo representa uma tentativa original de articular as ideias fundamentais do socialismo marxista com as contribuições da crítica ecológica.
O raciocínio ecossocialista se apoia em dois argumentos essenciais:
1) o modo de produção e consumo atual dos países capitalistas avançados, fundado sobre uma lógica de acumulação ilimitada (do capital, dos lucros, das mercadorias), desperdício de recursos, consumo ostentatório e destruição acelerada do meio ambiente, não pode de forma alguma ser estendido para o conjunto do planeta, sob pena de uma crise ecológica maior. Segundo cálculos recentes, se o consumo médio de energia dos EUA fosse generalizado para o conjunto da população mundial, as reservas conhecidas de petróleo seriam esgotadas em 19 dias. Esse sistema está, portanto, necessariamente fundado na manutenção e agravamento da desigualdade entre o Norte e o Sul;
2) de qualquer maneira, a continuidade do "progresso" capitalista e a expansão da civilização fundada na economia de mercado - até mesmo sob esta forma brutalmente desigual - ameaça diretamente, a médio prazo (toda previsão seria arriscada), a própria sobrevivência da espécie humana, em especial por causa das consequências catastróficas da mudança climática.
A racionalidade limitada do mercado capitalista, com seu cálculo imediatista das perdas e lucros, é intrinsecamente contraditória com uma racionalidade ecológica, que leve em conta a temporalidade longa dos ciclos naturais.
Não se trata de opor os "maus" capitalistas ecocidas aos "bons" capitalistas verdes: é o próprio sistema, fundado na competição impiedosa, nas exigências de rentabilidade, na corrida pelo lucro rápido, que é destruidor dos equilíbrios naturais. O pretenso capitalismo verde não passa de uma manobra publicitária, uma etiqueta buscando vender uma mercadoria, ou, no melhor dos casos, uma iniciativa local equivalente a uma gota-d'água sobre o solo árido do deserto capitalista.
Contra o fetichismo da mercadoria e a autonomização reificada da economia pelo neoliberalismo, o que está em jogo no futuro para os ecossocialistas é pôr em prática uma "economia moral" no sentido dado por Edward P. Thompson a este termo, isto é, uma política econômica fundada em critérios não monetários e extraeconômicos: em outras palavras, a reconciliação do econômico no ecológico, no social e no político.
As reformas parciais são totalmente insuficientes: é preciso substituir a microrracionalidade do lucro pela macrorracionalidade social e ecológica, algo que exige uma verdadeira mudança de civilização . Isso é impossível sem uma profunda reorientação tecnológica, visando a substituição das fontes atuais de energia por outras não poluentes e renováveis, como a eólica ou solar . A primeira questão colocada é, portanto, a do controle sobre os meios de produção e, principalmente, sobre as decisões de investimento e transformação tecnológica, que devem ser arrancados dos bancos e empresas capitalistas para tornarem-se um bem comum da sociedade.
Certamente, a mudança radical se relaciona não só com a produção, mas também com o consumo. Entretanto, o problema da civilização burguês-industrial não é - como muitas vezes os ecologistas argumentam - "o consumo excessivo" pela população e a solução não é uma "limitação" geral do consumo, sobretudo nos países capitalistas avançados. É o tipo de consumo atual, fundado na ostentação, no desperdício, na alienação mercantil, na obsessão acumuladora, que deve ser colocado em questão.
Ecologia e altermundialismo
Sim, nos responderão, é simpática essa utopia, mas por enquanto é preciso ficar de braços cruzados? Certamente não! É preciso lutar por cada avanço, cada medida de regulamentação, cada ação de defesa do meio ambiente. Cada quilômetro de estrada bloqueado, cada medida favorável aos transportes coletivos é importante; não somente porque retarda a corrida em direção ao abismo, mas porque permite às pessoas, aos trabalhadores, aos indivíduos se organizar, lutar e tomar consciência do que está em jogo nesse combate, de compreender, por sua experiência coletiva, a falência do sistema capitalista e a necessidade de uma mudança de civilização.
É nesse espírito que as forças mais ativas da ecologia estão engajadas, desde o início, no movimento altermundialista. Tal engajamento corresponde à tomada de consciência de que os grandes embates da crise ecológica são planetários e, portanto, só podem ser enfrentados por uma démarche resolutamente cosmopolítica, supranacional, mundial. O movimento altermundialista é sem dúvida o mais importante fenômeno de resistência antisistêmica do início do século XXI.
Essa vasta nebulosa, espécie de "movimento dos movimentos" que se manifesta de forma visível nos Fóruns Sociais - regionais e mundiais - e nas grandes manifestações de protesto - contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G8 ou a guerra imperial no Iraque - não corresponde às formas habituais de ação social ou política. Ampla rede descentralizada, ele é múltiplo, diverso e heterogêneo, associando sindicatos operários e movimentos camponeses, ONGs e organizações indígenas, movimentos de mulheres e associações ecológicas, intelectuais e jovens ativistas. Longe de ser uma fraqueza, essa pluralidade é uma das fontes da força, crescente e expansiva, do movimento.
Pode-se afirmar que o ato de nascimento do altermundialismo foi a grande manifestação popular que fez fracassar a reunião da OMC em Seattle, em 1999. A cabeça visível desse combate era a convergência surpreendente de duas forças: turtles and teamsters, ecologistas vestidos de tartarugas (espécie ameaçada de extinção) e sindicalistas do setor de transportes. Portanto, a questão ecológica estava presente, desde o início, no coração das mobilizações contra a globalização capitalista neoliberal. A palavra de ordem central desse movimento, "o mundo não é uma mercadoria", visa também, evidentemente, o ar, a água, a terra, isto é, o ambiente natural, cada vez mais submetido aos ditames do capital.
Podemos afirmar que o altermundialismo comporta três momentos: 1) o protesto radical contra a ordem existente e suas sinistras instituições: o FMI, o Banco Mundial, a OMC, o G8; 2) um conjunto de medidas concretas, propostas passíveis de serem imediatamente realizadas: a taxação dos capitais financeiros, a supressão da dívida do Terceiro Mundo, o fim das guerras imperialistas; 3) a utopia de um "outro mundo possível", fundado sobre valores comuns como liberdade, democracia participativa, justiça social e defesa do meio ambiente.
A dimensão ecológica está presente nesses três momentos: ela inspira tanto a revolta contra um sistema que conduz a humanidade a um trágico impasse, quanto um conjunto de propostas precisas - moratória sobre os OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), desenvolvimento de transportes coletivos gratuitos -, bem como a utopia de uma sociedade vivendo em harmonia com os ecossistemas, esboçada pelos documentos do movimento. Isso não quer dizer que não existam contradições, fruto tanto da resistência de setores do sindicalismo às reivindicações ecológicas, percebidas como uma "ameaça ao emprego", quanto da natureza míope e pouco social de algumas organizações ecológicas. Mas uma das características mais positivas dos Fóruns Sociais, e do altermundialismo em seu conjunto, é a possibilidade do encontro, debate, diálogo e da aprendizagem recíproca de diferentes tipos de movimentos.
É preciso acrescentar que o próprio movimento ecológico está longe de ser homogêneo: é muito diverso e contem um espectro que vai desde ONGs moderadas habituadas ao lobby como forma de pressão, até os movimentos combativos inseridos num trabalho de base militante; da gestão "realista" do Estado (no nível local ou nacional) às lutas que colocam em questão a lógica do sistema; da correção dos "excessos" da economia de mercado às iniciativas de orientação ecossocialista.
Essa heterogeneidade caracteriza, diga-se de passagem, todo o movimento altermundialista, mesmo com a predominância de uma sensibilidade anticapitalista, sobretudo na América Latina. É a razão pela qual o Fórum Social Mundial, precioso lugar de encontro - como explica tão bem nosso amigo Chico Whitaker - onde diferentes iniciativas podem fincar raízes, não pode se tornar um movimento sociopolítico estruturado, com uma "linha" comum, resoluções adotadas por maioria etc.
É importante sublinhar que a presença da ecologia no "movimento dos movimentos" não se limita às organizações ecológicas - Greenpeace, WWF, entre outras. Ela se torna cada vez mais uma dimensão levada em conta, na ação e reflexão, por diferentes movimentos sociais, camponeses, indígenas, feministas, religiosos (Teologia da Libertação).
Um exemplo impressionante dessa integração "orgânica" das questões ecológicas por outros movimentos é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que, com seus camaradas da rede internacional Via Campesina, é um dos pilares do Fórum Social Mundial e do movimento altermundialista. Hostil desde sua origem ao capitalismo e sua expressão rural, o agronegócio, o MST integrou cada vez mais a dimensão ecológica no seu combate por uma reforma agrária radical e um outro modelo de agricultura. Durante a celebração do vigésimo aniversário do movimento, no Rio de Janeiro em 2005, o documento dos organizadores declarava: nosso sonho de "um mundo igualitário, que socialize as riquezas materiais e culturais", um novo caminho para a sociedade, "fundado na igualdade entre os seres humanos e nos princípios ecológicos".
Isto se traduziu nas ações - por diversas vezes à margem da "legalidade" - do MST contra os OGMs, o que é tanto um combate contra a tentativa das multinacionais - Monsanto, Syngenta - de controlar totalmente as sementes, submetendo os camponeses à sua dominação, como uma luta contra um fator de poluição e contaminação incontrolável do campo. Assim, graças a uma ocupação "selvagem", o MST obteve em 2006 a expropriação do campo de milho e soja transgênicos da Syngenta Seeds no Estado do Paraná, que se tornou o assentamento camponês Terra Livre. É preciso mencionar também seu enfrentamento às multinacionais de celulose que multiplicam, sobre centenas de milhares de hectares, verdadeiros "desertos verdes", florestas de eucaliptos (monocultura) que secam todas as fontes d'água e destroem toda a biodiversidade. Esses combates são inseparáveis, para os quadros e ativistas do MST, de uma perspectiva anticapitalista radic al.
As cooperativas agrícolas do MST desenvolvem, cada vez mais, uma agricultura biologicamente preocupada com a biodiversidade e com o meio ambiente em geral, constituindo assim exemplos concretos de uma forma de produção alternativa. Em julho de 2007, o MST e seus parceiros do movimento Via Campesina organizaram em Curitiba uma Jornada de Agroecologia, com a presença de centenas de delegados, engenheiros agrônomos, universitários e teólogos da libertação (Leonardo Boff, Frei Betto).
Naturalmente, essas experiências de luta não se limitam ao Brasil, sendo encontradas sob formas diferentes em muitos outros países, não apenas no Terceiro Mundo, constituindo-se numa parte significativa do arsenal combativo do altermundialismo e da nova cultura cosmopolítica da qual ele é um dos portadores.
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O fracasso retumbante da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, de dezembro de 2009, confirma mais uma vez, para quem ainda tinha dúvidas, a incapacidade de governos à serviço dos interesses do capital em enfrentar o problema. Em vez de um acordo internacional obrigatório, com reduções substanciais de emissões de gazes com efeito estufa nos países industrializados - um mínimo de 40% seria necessário - seguida de medidas mais modestas nos países emergentes (China, Índia, Brasil), os Estados Unidos impuseram, com o apoio da Europa e a cumplicidade da China, uma "declaração" completamente vazia, que faz senão reiterar o óbvio : precisamos impedir que a temperatura do planeta suba mais de 2°C.
A única esperança é o movimento social, altermundialista e ecológico, que se expressou em Copenhagen numa grande manifestação de rua - 100 mil pessoas - com o apoio de Evo Morales, cujas declarações anticapitalistas sem ambiguidades foram uma das poucas expressões criticas na conferencia "oficial". Os manifestantes, assim como o Fórum alternativo KlimaForum, levantaram a palavra de ordem "Mudemos o sistema, não o clima!" Evo Morales convocou um encontro de governos progressistas e movimentos sociais em Cochabamba (abril de 2010) com o objetivo de organizar a luta para salvar a Mãe-Terra, a Pacha-Mama, da destruição capitalista.
Fonte: Ecodebate, 26/05/2010, publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.
19 maio, 2010
Célio Pedreira é eleito imortal da ATL
GROTA DAS POMBINHAS
Caminho de grota
maioria é calado
remoe terra de quintal
aflora na rua quando quer
e vai rezando no rumo do rio.
Caçoada de grota é ladeira
fiapo d'água na pedra
margem capilar
nem farta
nem sovina
só passarinho.
A grota das pombinhas
hoje lamenta cimento
agoniza lodo seco
ou empresta a tarde para as larvas
como suspirar de nada.
Poesia de Célio Pedreira
Josué de Castro: o geógrafo da fome
Assim como eu, inúmeros geógrafos terminam o curso sem se quer saber quem foi Josué de Castro. Na prática, como professores, continuam sem ter acesso aos seus ensinamentos. Não é para menos, é raro o livro didático que traz alguma citação sobre este célebre cientista. conheci suas concepções três anos depois de formado, quando fui lecionar a disciplina Geografia Humana do Brasil na UNITINS em Regime Especial. Recentemente (maio de 2006), durante o 2º salão do livro realizado em Palmas, tive acesso a quatro obras: “Geopolítica da Fome”, “O Livro Negro da Fome”, “Homens e Caranguejos” e “Ensaios de Biologia Social”. Como nos últimos meses o debate sobre a fome ganhou novos contornos, fui impulsionado a escrever essas linhas para que novas gerações, que hoje praticamente o desconhecem, tenham a oportunidade de entender um pouco mais sobre um dos maiores intelectuais da vanguarda brasileira, que lutou incansavelmente para extirpar a fome, não só do Brasil, mais de nosso planeta.
Josué de Castro, nasceu no Recife em 1908, sua infância foi marcada pelos mangues lamacentos do rio Capibaribe de onde retirava o alimento que lhe garantia a sobrevivência. Essa dolorosa experiência, ele retratou poeticamente em Homens e Caranguejos, publicado em 1965, onde destaca a gênese da sua aventura cognitiva no universo dos famintos. Filho de sertanejo, aprendeu desde cedo a conviver com a pobreza e a miséria. Na juventude conviveu com a maior seca da história do Brasil em 1915, bem retratada no romance “O Quinze” de Rachel de Queiroz. Com apenas 20 anos, concluiu a Faculdade de Medicina. Em sua primeira experiência como médico, Josué é convidado para diagnosticar os operários de uma fábrica de tecidos, até então acusados da doença da preguiça.
No entanto, Josué, descobre que a principal causa do baixo desempenho ocupacional daqueles operários era a fome, a mesma fome que assolava os seus amigos de infância que habitavam nos mangues. Foi a partir daí que começou a desenvolver pesquisas e estudos sobre as condições de vida: o resultado foram várias publicações, dentre outras, a mais conhecida a Geografia da Fome – obra clássica publicada em 1946, uma espécie de tratado sobre essa temática, traduzida em mais de 25 idiomas, e que teve grande repercussão mundial, ganhando vários prêmios.
A fome até hoje, em pleno século XXI, continua sendo o maior flagelo para da humanidade, cerca de 13%, ou seja mais de 800 milhões de pessoas não consomem diariamente alimentos com a quantidade mínima recomendada, os ensinamentos de Josué de Castro influenciaram até no conceito da palavra fome, que ganhou novo significado. Ela deixou de ser simplesmente a falta de alimentos para a satisfação do apetite e passa a ser também a falta de quaisquer dos elementos nutritivos (vitaminas e minerais) indispensáveis à manutenção da saúde. Também chamada de deficiência energética crônica ou simplesmente desnutrição, um dos principais fatores das mortes prematuras. Muito comum no Brasil em virtude da alimentação desbalanceada ou pouco diversificada.
Na verdade, Josué de Castro foi mais que um pioneiro no estudo da fome, ele foi a maior expressividade dentro das ciências sociais e humanas, deixando vários estudos quebrando inclusive tabus, mitos e preconceitos. Além contrapor velhas teorias de Freud e Thomas Malthus ao afirmar que a explosão demográfica é uma conseqüência direta da fome. Foi também dele as idéias que hoje formam a base do programa Fome Zero do Governo Federal. Isso mesmo, quase seis décadas depois, as suas concepções saem do papel e começam a ser colocadas em prática.
Professor, médico, romancista, poeta, jornalista conviveu com figuras de proa da intelectualidade brasileira, entre eles o alagoano Arhur Ramos, o pernambucano Gilberto Freyre, o paulista Sérgio Buarque de Holanda, o baiano Anísio Teixeira e o potiguar Câmara Cascudo. Sua caminhada e seu inconformismo com as mazelas sociais e a fome tornaram-se mundialmente conhecidas, chegando a ocupar cargos e funções em organismos da ONU, além de participar em diversas missões internacionais com o intuito de combater o flagelo da desnutrição.
Em resumo a vida de Josué de Castro foi uma grande lição de engajamento em sua própria realidade, sua própria cultura, pois procurou desenvolver toda uma ciência, a partir de um fenômeno em sua mais dura expressão: a Fome. Esse perfil é expresso com clareza pelo geógrafo Manuel Correia de Andrade “Josué de Castro não era um intelectual alienado e encerrado numa torre de marfim; ao contrário, era um homem que juntava ao saber acadêmico o saber adquirido na observação empírica, na reflexão direta da realidade e na absorção da cultura popular. Ele mostra que não se deixou enganar pelas teorizações de muitos cientistas de renome que, a serviço de países ou de megaempresas, formulavam teorias que beneficiariam as forças econômicas internacionais e justificariam a exploração e a pauperização das populações periféricas, hoje tão acentuadas, com a substituição da fase imperialista pela fase globalizadora, na economia capitalista mundial”.