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19 maio, 2010

Josué de Castro: o geógrafo da fome

Júnio Batista do Nascimento, professor, pesquisador, articulista e autor do livro Conhecendo o Tocantins: História e Geografia

Assim como eu, inúmeros geógrafos terminam o curso sem se quer saber quem foi Josué de Castro. Na prática, como professores, continuam sem ter acesso aos seus ensinamentos. Não é para menos, é raro o livro didático que traz alguma citação sobre este célebre cientista. conheci suas concepções três anos depois de formado, quando fui lecionar a disciplina Geografia Humana do Brasil na UNITINS em Regime Especial. Recentemente (maio de 2006), durante o 2º salão do livro realizado em Palmas, tive acesso a quatro obras: “Geopolítica da Fome”, “O Livro Negro da Fome”, “Homens e Caranguejos” e “Ensaios de Biologia Social”. Como nos últimos meses o debate sobre a fome ganhou novos contornos, fui impulsionado a escrever essas linhas para que novas gerações, que hoje praticamente o desconhecem, tenham a oportunidade de entender um pouco mais sobre um dos maiores intelectuais da vanguarda brasileira, que lutou incansavelmente para extirpar a fome, não só do Brasil, mais de nosso planeta.

Josué de Castro, nasceu no Recife em 1908, sua infância foi marcada pelos mangues lamacentos do rio Capibaribe de onde retirava o alimento que lhe garantia a sobrevivência. Essa dolorosa experiência, ele retratou poeticamente em Homens e Caranguejos, publicado em 1965, onde destaca a gênese da sua aventura cognitiva no universo dos famintos. Filho de sertanejo, aprendeu desde cedo a conviver com a pobreza e a miséria. Na juventude conviveu com a maior seca da história do Brasil em 1915, bem retratada no romance “O Quinze” de Rachel de Queiroz. Com apenas 20 anos, concluiu a Faculdade de Medicina. Em sua primeira experiência como médico, Josué é convidado para diagnosticar os operários de uma fábrica de tecidos, até então acusados da doença da preguiça.

No entanto, Josué, descobre que a principal causa do baixo desempenho ocupacional daqueles operários era a fome, a mesma fome que assolava os seus amigos de infância que habitavam nos mangues. Foi a partir daí que começou a desenvolver pesquisas e estudos sobre as condições de vida: o resultado foram várias publicações, dentre outras, a mais conhecida a Geografia da Fome – obra clássica publicada em 1946, uma espécie de tratado sobre essa temática, traduzida em mais de 25 idiomas, e que teve grande repercussão mundial, ganhando vários prêmios.

A fome até hoje, em pleno século XXI, continua sendo o maior flagelo para da humanidade, cerca de 13%, ou seja mais de 800 milhões de pessoas não consomem diariamente alimentos com a quantidade mínima recomendada, os ensinamentos de Josué de Castro influenciaram até no conceito da palavra fome, que ganhou novo significado. Ela deixou de ser simplesmente a falta de alimentos para a satisfação do apetite e passa a ser também a falta de quaisquer dos elementos nutritivos (vitaminas e minerais) indispensáveis à manutenção da saúde. Também chamada de deficiência energética crônica ou simplesmente desnutrição, um dos principais fatores das mortes prematuras. Muito comum no Brasil em virtude da alimentação desbalanceada ou pouco diversificada.

Na verdade, Josué de Castro foi mais que um pioneiro no estudo da fome, ele foi a maior expressividade dentro das ciências sociais e humanas, deixando vários estudos quebrando inclusive tabus, mitos e preconceitos. Além contrapor velhas teorias de Freud e Thomas Malthus ao afirmar que a explosão demográfica é uma conseqüência direta da fome. Foi também dele as idéias que hoje formam a base do programa Fome Zero do Governo Federal. Isso mesmo, quase seis décadas depois, as suas concepções saem do papel e começam a ser colocadas em prática.

Professor, médico, romancista, poeta, jornalista conviveu com figuras de proa da intelectualidade brasileira, entre eles o alagoano Arhur Ramos, o pernambucano Gilberto Freyre, o paulista Sérgio Buarque de Holanda, o baiano Anísio Teixeira e o potiguar Câmara Cascudo. Sua caminhada e seu inconformismo com as mazelas sociais e a fome tornaram-se mundialmente conhecidas, chegando a ocupar cargos e funções em organismos da ONU, além de participar em diversas missões internacionais com o intuito de combater o flagelo da desnutrição.

Em resumo a vida de Josué de Castro foi uma grande lição de engajamento em sua própria realidade, sua própria cultura, pois procurou desenvolver toda uma ciência, a partir de um fenômeno em sua mais dura expressão: a Fome. Esse perfil é expresso com clareza pelo geógrafo Manuel Correia de Andrade “Josué de Castro não era um intelectual alienado e encerrado numa torre de marfim; ao contrário, era um homem que juntava ao saber acadêmico o saber adquirido na observação empírica, na reflexão direta da realidade e na absorção da cultura popular. Ele mostra que não se deixou enganar pelas teorizações de muitos cientistas de renome que, a serviço de países ou de megaempresas, formulavam teorias que beneficiariam as forças econômicas internacionais e justificariam a exploração e a pauperização das populações periféricas, hoje tão acentuadas, com a substituição da fase imperialista pela fase globalizadora, na economia capitalista mundial”.

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