TESSITURAS
DO ROSTO
Eguimar
Felício Chaveiro-UFG
Em
conversa com amigos e colegas de trabalho; e também por meio de
leituras de autores que tratam o assunto; a inclusão de notas de
observações em procedimentos de reuniões de Institutos da
Universidade, tenho sintetizado que as INSTITUIÇÕES BUROCRATIZADAS
CONTEMPORÂNEAS, especialmente a Universidade, onde trabalho,
internalizam o que DELEUZE chama A DOENÇA DO MUNDO.
O
pior é que o grau exacerbado da burocratização institucional ao
contemplar o desejo de fuga de muitos sujeitos estilhaçados em suas
trajetórias, municia o mesmo nível de uma vida burocratizada desses
sujeitos. Ao se encastelarem na visão burocrática da vida, no
sotaque de um humor desperene e instável, tal como o sistema
financeirizado da economia mundial, da rede de fluxos de mercadorias
e símbolos, do desemprego estrutural, da absolescência construída
de aparatos tecnológicos, esses sujeitos gastam a sua inteligência,
o seu tempo e a sua argúcia criativa em nome de uma vontade de
domínio dos pequenos grupos. A sua fragmentação torna-se governo
do espírito coletivo dos grupos, caso não seja combatida. O desejo
de controlar toda a vida administrativa das instituições ultrapassa
o limite de papéis como normas, regimentos, resoluções - textos
requisitados por esta administração burocratizada da existência -
e chega ao campo perigoso da vontade de domínio da subjetividade dos
grupos, das densas trajetórias de cada colega, desperdiçando, quase
sempre, o encontro com o diferente, com o diverso, mesmo que,
burocraticamente, nutram desses signos para a sua triste vida
magoada. Investidos na trama burocrática adoecem, tornam-se reféns
de uma solidão, perdem o pendor insurgente e a ternura. Sei que a
operação não é dual: não há de cá os bons, os puros, os que
fogem das cenas sociais impostas pelo mundo; e de lá os burocratas
adoecidos, os vampiros de humor. Todos pertencemos ao tempo - e às
suas flechas. Todavia, com base nesta interpretação, tento agir
para desburocratizar a vida acadêmica e fazê-la com
responsabilidade e disciplina; tento agir para criar vida na vida,
para enternecer as atividades, transformando-as em atos de circulação
de uma vontade-de-estar-junto. E de uma disposição para a
aprendizagem coletiva. Daí penso que devo desconfiar dos títulos,
dos currículos, do poder que emana de nosso lugar na vida acadêmica.
O que é essencial é a produção do sentido pedagógico, o seu rumo
diante dos conflitos sociais de nosso tempo. Em função disso, tento
fazer política com o rosto. Importa-me apresentar um rosto
acolhedor, agradável, simples como se, enfeixado por signos do tempo
e da minha vida, colocasse o meu invisível na filigrana de cada
poro; destampado e convidativo fosse uma peça para um começo de
diálogo respeitoso, desburocratizado. Território do suor
poder-se-ia se transformar em terra para fecundar afetos e saberes.
Paisagem de minha raiz, transformaria em usina de gestos para um
passeio intenso e leve nos lugares. Na tessitura simples do rosto, a
expressão da minha coragem para enfrentar a vida burocrática.
0 comentários:
Postar um comentário