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10 outubro, 2012

TESSITURAS DO ROSTO

                                                                                                      

TESSITURAS DO ROSTO

Eguimar Felício Chaveiro-UFG

Em conversa com amigos e colegas de trabalho; e também por meio de leituras de autores que tratam o assunto; a inclusão de notas de observações em procedimentos de reuniões de Institutos da Universidade, tenho sintetizado que as INSTITUIÇÕES BUROCRATIZADAS CONTEMPORÂNEAS, especialmente a Universidade, onde trabalho, internalizam o que DELEUZE chama A DOENÇA DO MUNDO.
O pior é que o grau exacerbado da burocratização institucional ao contemplar o desejo de fuga de muitos sujeitos estilhaçados em suas trajetórias, municia o mesmo nível de uma vida burocratizada desses sujeitos. Ao se encastelarem na visão burocrática da vida, no sotaque de um humor desperene e instável, tal como o sistema financeirizado da economia mundial, da rede de fluxos de mercadorias e símbolos, do desemprego estrutural, da absolescência construída de aparatos tecnológicos, esses sujeitos gastam a sua inteligência, o seu tempo e a sua argúcia criativa em nome de uma vontade de domínio dos pequenos grupos. A sua fragmentação torna-se governo do espírito coletivo dos grupos, caso não seja combatida. O desejo de controlar toda a vida administrativa das instituições ultrapassa o limite de papéis como normas, regimentos, resoluções - textos requisitados por esta administração burocratizada da existência - e chega ao campo perigoso da vontade de domínio da subjetividade dos grupos, das densas trajetórias de cada colega, desperdiçando, quase sempre, o encontro com o diferente, com o diverso, mesmo que, burocraticamente, nutram desses signos para a sua triste vida magoada. Investidos na trama burocrática adoecem, tornam-se reféns de uma solidão, perdem o pendor insurgente e a ternura. Sei que a operação não é dual: não há de cá os bons, os puros, os que fogem das cenas sociais impostas pelo mundo; e de lá os burocratas adoecidos, os vampiros de humor. Todos pertencemos ao tempo - e às suas flechas. Todavia, com base nesta interpretação, tento agir para desburocratizar a vida acadêmica e fazê-la com responsabilidade e disciplina; tento agir para criar vida na vida, para enternecer as atividades, transformando-as em atos de circulação de uma vontade-de-estar-junto. E de uma disposição para a aprendizagem coletiva. Daí penso que devo desconfiar dos títulos, dos currículos, do poder que emana de nosso lugar na vida acadêmica. O que é essencial é a produção do sentido pedagógico, o seu rumo diante dos conflitos sociais de nosso tempo. Em função disso, tento fazer política com o rosto. Importa-me apresentar um rosto acolhedor, agradável, simples como se, enfeixado por signos do tempo e da minha vida, colocasse o meu invisível na filigrana de cada poro; destampado e convidativo fosse uma peça para um começo de diálogo respeitoso, desburocratizado. Território do suor poder-se-ia se transformar em terra para fecundar afetos e saberes. Paisagem de minha raiz, transformaria em usina de gestos para um passeio intenso e leve nos lugares. Na tessitura simples do rosto, a expressão da minha coragem para enfrentar a vida burocrática.

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